sábado, 7 de novembro de 2009











Em suas teorias sobre a arquitetura, Peter Eisenman afirma, sobretudo, que a Arquitetura Moderna nunca existiu. Essa alegação fica explicita em um editorial escrito em 1976 para a revista Oppositions, do I.A.U.S., cujo era diretor na época, onde ele discorda do termo “pós-modernismo”, já que para ele a arquitetura moderna não existiu, baseando-se no fato de que a relação entre forma e função pregada no modernismo como uma revolução é uma característica definidora na arquitetura desde o renascimento.
A arquitetura humanista do renascimento procurou um equilíbrio entre a distribuição programática e a “articulação formal de temas ideais”, que é chamada de tipologia, porém, com a industrialização surgiram novas funções que as soluções tipológicas se tornaram inadequadas, ocasionando no predomínio da função no partido arquitetônico, o que se consagrou na máxima “a forma segue a função”. Para ele, o funcionalismo do século XX é uma extensão das crenças humanistas e, portanto, não é verdadeiramente moderno. Mesmo que o modernismo cultural tenha reconhecido o fim do humanismo e do antropocentrismo, a arquitetura ainda não assimilou tais mudanças. Para manifestar na arquitetura a “sensibilidade modernista” seria preciso romper com a função como princípio fundador.
Sua alternativa ao pós-modernismo é o chamado pós-funcionalismo, que preconiza uma dialética entre a tipologia humanista e a fragmentação de formas típicas em signos. O funcionalismo, ou modernismo, passou a idéia de representar uma ruptura com o passado pré-industrial por se caracterizar pelas formas desnudas da produção tecnológica, mas para Eisenman, o funcionalismo é apenas uma fase tardia do humanismo e não uma alternativa a ele.
Em sua teoria, a arquitetura não participou nem compreendeu os aspectos fundamentais da mudança do humanismo ao modernismo presente em várias áreas no século XIX por estar presa aos princípios da função, o que limita suas possibilidades e evolução.
Desde o século XV a arquitetura teve a influência de três “ficções”, que são a representação, que deveria materializar a idéia de significado; a razão, que devia codificar a idéia de verdade; e a história, que devia resgatar a idéia de eternidade a partir da idéia de mudança. Antes do renascimento uma igreja gótica ou românica tinham seu significado em si, já o valor dos edifícios renascentistas e de seus sucessores que se pretendiam “arquitetura” provinha do fato de representar uma arquitetura anterior já dotada de valor.
A arquitetura moderna pretendeu romper com a ficção renascentista de representação, dizendo que a arquitetura não devia mais representar outra de um período anterior, mas sim, apenas corporificar sua determinada função. O modernismo introduziu a idéia de que a arquitetura deveria expressar em sua forma sua função, dessa maneira, para Eisenman, a arquitetura moderna aproximava-se do estilo clássico, havendo apenas um processo de redução e abstração, assim uma coluna que antes era adornada e torneada, agora é lisa, se aproximando mais da coluna “real” que teria o papel simplesmente de estrutura, e não de ornamento.
No entanto, percebeu-se que o funcionalismo acabou se mostrando como mais uma solução estilística. A arquitetura moderna falhou na concretização de um novo valor, pois, ao tentar reduzir a forma arquitetônica à sua essência, a uma realidade pura, os modernos imaginaram que estavam transformando o campo da figuração de referencias em “objetividade não-referencial”, porém, suas formas objetivas nunca abandonaram a tradição clássica quanto a referencias, a forma clássica que antes se referia a motivos da natureza em suas formas e adornos, no modernismo se refere a um novo conjunto de pressupostos como a função, a tecnologia e as máquinas. Os pontos de referencia mudaram, mas as conseqüências disso para o objeto são as mesmas.
Eisenman então entende que o classicismo e o modernismo são momentos contínuos na história. Em um trecho de seu texto “O fim do clássico: o fim do começo, o fim do fim” de 1984 ele declara que:

“Compreender o classicismo e o modernismo como momentos de um mesmo ‘continuum’ histórico leva, portanto, à conclusão de que, nem na representação, nem na razão, nem na história, há valores auto-evidentes que ainda possam conferir legitimidade ao objeto. A perda de valores auto-evidentes faz com que o intemporal seja liberado do significado e do verdadeiro. Permite compreender que não há uma verdade única (uma verdade intemporal) ou um significado único (um significado intemporal), mas tão somente o intemporal. (...) Com essa ruptura, perde importância saber se as origens são naturais, divinas ou funcionais e, dessa forma, não há mais necessidade de produzir uma arquitetura clássica – isto é, eterna – apelando aos valores clássicos inerentes à representação, à razão e à história”

O que Eisenman propõe não é a convenção de um novo modelo para a arquitetura, já que isso é o que ele mais rejeita, dizendo que todos os modelos são fúteis. O que ele propõe é uma expansão além das limitações proporcionadas pelo modelo clássico à concretização da arquitetura como um discurso independente, isento de qualquer valor externo. Ele procura uma arquitetura como “escrita”, como signo de si mesma, em oposição à arquitetura como “imagem”, como alusão a outro objeto, arquitetural ou não. Arquitetura para ele deve ser invenção de formas sem contexto algum, fundado no vazio.

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